Talvez seja reflexo do excesso de patrulhamento provocado pelas estranhas amarras da classificação indicativa. Mas é inegável que as novelas brasileiras têm se tornado cada vez mais infantis. Na Globo, principal produtora de novelas do país, é fácil perceber isso. Joia Rara, a novela das seis, é folhetim despudorado e romântico. Sangue Bom já aposta numa pegada juvenil. Até aí tudo bem, pois estão de acordo com o que se espera das tramas que ocupam a faixa das seis e sete. Mas na faixa das nove, se esperava uma trama um pouco mais adulta, o que não acontece em Amor à Vida. Claro, há sexo à exaustão, mas a linguagem adotada, cheia de didatismo e tatibitate, somado ao argumento raso toda vida, deixa a trama de Walcyr Carrasco bastante distante do que se espera de um entretenimento adulto.
Já a Record tem um histórico repleto de tramas mais fortes e densas, até porque seu principal (e único) horário de novelas está instalado na faixa das 22 horas, o que dá uma liberdade maior. Mas mesmo a novela das dez andava fraca: depois de Máscaras, vieram Balacobaco, uma espécie de novela das sete com humor de Zorra Total, e Dona Xepa, esta praticamente uma novela das seis de tão ingênua. Pecado Mortal, o atual folhetim em cartaz, estreou na semana passada para mudar este cenário. E começou muito bem.
Pra começar, Pecado Mortal marca a estreia de Carlos Lombardi como novelista na Record. Subaproveitado na Globo, onde não emplacava uma novela desde Pé na Jaca, o autor encontrou na TV de Edir Macedo um lugar onde poderia dar um passo além. Na Globo, Lombardi se consagrou como o principal autor de novelas das sete, assinando várias das melhores produções do horário na emissora nos últimos vinte anos. Tramas como Bebê a Bordo, Perigosas Peruas, Quatro por Quatro e Uga Uga atingiram grandes índices de audiência e se caracterizaram pela trama ágil, repleta de ação e referências pop, além dos diálogos afiados e repletos de ironia, destilados pelos mais inusitados tipos de personagens. Lombardi era dono de um dos textos mais ácidos e inteligentes da Globo.
No entanto, suas novelas também eram caracterizadas pela excessiva carga sexual, e por abusar do que se tornou sua marca registrada: homens de torsos nus. Humberto Martins e Marcos Pasquim fizeram história no horário das sete da Globo, ao exporem seus peitos indiscriminadamente. Com isso, muitos espectadores colaram em Lombardi o selo de “apelão”, e a fama de “o autor dos descamisados” acabou ficando acima das qualidades de seu texto. Reduziram as novelas de Carlos Lombardi a um festival de nudez, deixando de lado o fato de que a maioria de suas histórias era muito bem elaborada e mais complexa do que se vê normalmente na faixa das sete.
Por isso mesmo, o horário das sete da Globo se tornou pequeno para ele. E, sem novo espaço na emissora platinada, Lombardi se agarrou na chance de ocupar um horário mais avançado e, portanto, com mais liberdade criativa na Record. O resultado disso é Pecado Mortal que, pelo que se viu até aqui, manteve intactas suas melhores qualidades, e teve um ganho extra de carga dramática, deixando seu humor rasgado em segundo plano.
Pecado Mortal é um oásis de produção, depois de duas tramas mais simplórias na Record. Com a ação se passando nos anos 1970, a trama ostenta uma reprodução da época caprichada, com direção eficiente de Alexandre Avancini. Figurinos (sim, eles existem!), cenários e trilha sonora recheada com o melhor da disco music da época, embalam e dão clima à história. A qualidade da imagem também salta aos olhos, bem mais bonita do que das novelas anteriores.
Mas tudo isso não seria grande coisa sem um bom texto. A trama de Pecado Mortal é densa e envolvente. Sua espinha dorsal é folhetim puro, na sua melhor forma: a vilã Donana (Jussara Freire) obrigou Stella (Betty Lago) a entregar os filhos que teve com seu marido Michelle (Luiz Guilherme) a ela, e os criou como seus. Anos depois, Stella ressurge para retomar a vida que a inimiga lhe roubou. Mas um dos filhos de Stella está perdido. Paralelamente, o mocinho Carlão (Fernando Pavão, sucessor de Marcos Pasquim na categoria “descamisado principal”) passa a ser vítima de uma misteriosa perseguição. Enquanto isso, bicheiros e traficantes de drogas brigam pelo controle da contravenção.
O elenco também é um acerto, a começar pelas intérpretes das duas mulheres que movem a saga. Betty Lago é a atriz-fetiche de Carlos Lombardi e sabe dizer seu texto como poucas. A atriz volta à TV em grande estilo após vencer um câncer. Do outro lado, Jussara Freire finalmente ganha uma personagem à altura de seu talento, após anos acumulando coadjuvantes simpáticas. Donana é uma “vilãzona” deliciosa, bandida até a medula e repleta de possibilidades. Fernando Pavão é um herói eficiente, e Simone Spoladore, como a mocinha Patricia, está ótima. Também se destacam a sempre luminosa Paloma Duarte (Dorotéia), Sonia Lima (Norma) e Victor Hugo (Picasso).
Em Pecado Mortal, o autor Carlos Lombardi mantém intactos os diálogos ácidos, repletos de frases de efeitos e tiradas rápidas. Tudo isso a serviço de uma trama madura, sem meias palavras, incluindo-se aí muita sensualidade e violência. Ou seja, um folhetim essencialmente adulto. Até aqui, um bom entretenimento para este segmento de público que andava carente de boas produções. Promete.
Ruim demais essa novela, e o que mata ainda mais é a repetição de elenco da Record, Fernando Pavão como protagonista pela 10ª vez… Eles não descansam a imagem do elenco, é novela atrás de novela!
Esse crítico deve ter ganhado muito bem da record p/ escrever este texto.
Credo! Até tentei assistir, mas realmente não dá! É chata demais, tô fora!
Gosto demais de Pecado Mortal, Tem ação, diálogos inteligentes e personagens interessantes. A recriação dos anos 70 é excelente. Cheia de referências pop (quadrinhos e cinema). Dá de 10 a zero nas novelas da Globo.
A novela é sensacional! Texto Inteligente, repleta de bons atores, cenários em arte pura e direção primorosa. Finalmente uma boa novela!