Ao assinarem o remake de Ti Ti Ti, a dupla Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari acrescentou um molho que tornou a trama especial: eles homenagearam o próprio folhetim dentro do folhetim. Ao longo dos capítulos que narravam a rivalidade entre Victor Valentin (Murilo Benicio) e Jacques LeClair (Alexandre Borges), não faltaram referências às principais novelas da história da TV, o que levou os fãs do gênero ao delírio. Desta vez, a dupla dá um passo além e, em sua nova história, Sangue Bom, trata não somente do universo das novelas, mas de todo o “mundo dos famosos”.
Muitos foram os folhetins a trazerem o tema à tona. Até mesmo Ti Ti Ti tinha personagens que aspiravam a fama, como Stéfany (Sophie Charlotte) e Amanda (Tayla Ayala). Celebridade, de Gilberto Braga, criou toda uma trama centrada na mesma temática. A série A Vida Alheia abordou o lado “barra pesada” da questão. Já Lara com Z transformou a temática num pastiche. E até a recente Cheias de Charme usou do mesmo mote, de uma maneira original e divertida.
Aliás, não faltaram comparações com Cheias de Charme nesta primeira semana de Sangue Bom. Se na história de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, a personagem Chayene (Claudia Abreu) era o próprio estereótipo da cantora decadente deslumbrada, em Sangue Bom este arquétipo aparece sob o nome de Bárbara Ellen (Giulia Gam), a grande personagem do enredo. Sai o universo da música brega, entra os bastidores da televisão. Bárbara é uma atriz decadente que sobrevive graças à aparelhagem midiática que a cerca: adota crianças e mantém sua conturbada vida amorosa à mercê da imprensa.
“Frasista” de mão cheia, Bárbara foi protagonista das melhores cenas da primeira semana de Sangue Bom. Lamentou ter recusado o papel de Carminha em Avenida Brasil, disparou um “morreu como?” ao saber que seu jovem e famoso ex-marido havia passado desta para uma melhor, e ainda comprou briga com a (genial!) Mulher Mangaba (Ellen Rocche), a amante do falecido. “Se ele ainda tivesse me trocado por alguma participante de reality show…”, lamentou. Sinal dos tempos.
Ao redor de Bárbara Ellen orbitam tipos facilmente reconhecíveis. Há a repórter de celebridades sensacionalista (importada de Ti Ti Ti) Suely Pedrosa (Tuna Dweik), que não perde a oportunidade de abordar “celebs” em portas de festas e enterros para fazer perguntas óbvias (TV Fama? Ego?). Há a amiga tresloucada Damáris (Marisa Orth), outro trunfo de Sangue Bom, capaz dos maiores absurdos para reconquistar o marido. Há até espaço para a filha Amora (Sophie Charlotte), que segue os passos da mãe no mundo das celebridades, garantindo seu espaço na mídia, mesmo que para isso tenha que derrubar quem quer que seja. Amora, assim como a mãe adotiva, também não poupou alfinetadas, afirmando que agora todos querem a “nova classe C”. Como se sabe, a direção da Globo já há algum tempo mira neste “novo segmento” ao popularizar a programação. Ou seja, é a Globo satirizando a si mesma.
Amora, aliás, é a “protagonista oficial” de Sangue Bom, liderando um time de seis jovens personagens que se verão envolvidos numa ciranda amorosa: além dela, há Bento (Marco Pigossi), o mocinho do bem; Malu (Fernanda Vasconcellos), a irmã de criação gente fina; Giane (Isabelle Drummond), a companheira de orfanato “moleca”; Mauricio (Jayme Matarazzo), o noivo; e Fabinho (Humberto Carrão), o malvado invejoso. Uma ciranda bem montada, interpretada por jovens talentos bem escalados (com destaque total para Pigossi, muito bem como o mocinho; Fernanda, cada vez mais madura e segura em cena; e Isabelle, completamente despida da Cida de Cheias de Charme). Mas não se engane: Sangue Bom não é Malhação no horário nobre. Os jovens “puxam” o folhetim, mas são os veteranos que dominam a cena e rendem os melhores momentos.
Sangue Bom é sobre Bárbara Ellen, Damáris, Rosemere (uma surpreendente Malu Mader pobretona que promete!), Tina (Ingrid Guimarães), Plínio (Herson Capri), Wilson (Marco Ricca), Natan (Bruno Garcia), Verônica (Leticia Sabatella), Perácio (Felipe Camargo), Renata (Regiane Alves), entre muitos outros. São muitos os personagens e tramas, e será um grande desafio dosá-las adequadamente, mas os autores devem saber tirar de letra, afinal Ti Ti Ti também contava com elenco numeroso, e todos tiveram espaço para brilhar.
Sangue Bom é, também, “sangue novo”. Vincent Villari, conhecido por ser o mais jovem autor já contratado pela Globo (tinha 17 anos quando colaborou com o remake de Anjo Mau), finalmente aparece como autor titular depois de excelentes serviços prestados em outras tramas. Mesmo sendo sua primeira novela como titular, já é possível reconhecer traços do seu texto: o autor é adepto do humor non sense, com muitas situações absurdas temperadas pela língua afiada dos personagens. Está ao lado da veterana Maria Adelaide Amaral, dona de um refinamento textual único, caracterizado pela estrutura dramatúrgica bem armada. Sangue Bom é o resultado do encontro de jovens e veteranos (e de “jovens veteranos”), tanto no texto quanto no elenco. Uma mistura que tem tudo para ser bem sucedida.
Por André San
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gosto muito de sangue bom é a única que estou acompanhando religiosamente
mais que surpresa Vincent Villari contratado aos 17 anos surpresa total
ass.Cláudia Taissa
Pelas chamadas estava parecendo uma nova "malhação",mas c/ o início da novela provou que é muito mais do que uma "novelinha teen".
É a melhor novela do momento. Parece que vai trazer situações amorosas bastante usuais, sem precisar de assassinatos com seringas. A atuação de todo elenco está impecável… muito gostosa de assistir.