Sempre repito que tem duas atrizes queridonas que eu tenho como se fossem minhas avós da TV. Elas são Laura Cardoso e Eva Todor.
Comprei a biografia de Eva e me deliciei com a história dessa grande atriz que, do alto de seus 93 anos, está prestes a voltar a telinha em Salve, Jorge!
Eva não é brasileira, nasceu em Budapeste, Hungria, em 1919. É filha única, não tem filhos e teve dois casamentos. É viúva.
Começou sua carreira aos quatro anos e, relembra que, em sua primeira apresentação, apertada, fez xixi no palco, para delírio da plateia.
No Brasil, enfrentou dificuldades para conseguir trabalho. Chegou aqui aos oito anos, no entanto, não dominava o português. Esforçada, aprendeu e foi ganhando espaço com sua arte e o “ëstilo Eva”.
“Acho que sempre tive uma veia de humor, de saber fazer rir. Não tinha jeito, mesmo em situações supostamente sérias, eu aprontava alguma, muitas vezes até sem querer”.
“Sempre tive essa naturalidade no palco. Não sei explicar, mas tem aí duas coisas: primeiro, acho que é da raça mesmo. O povo húngaro, na maioria das vezes, é engraçado, cômico, e tem um senso de humor incrível. Isso é nato, é da raça. Segundo, porque quase todos os húngaros acham que é muito importante para a criança ter uma educação artística qualquer, seja no balé, na musica, no teatro, enfim, na arte de se expressar”
Arthur da Távola, em 1986, definia a atriz como “faceira”
Esse estilo não vem de herança familiar, tinha um único tio artista, grande escritor de peças na Brodway, Ladislau Fódor.
Aliás, seu sobrenome real é Fodor. Um dia, em uma apresentação, chamavam-na de Todor, para desespero de sua mãe, que insistentemente corrigia o rapaz. Porém, também para evitar gracejos, Eva manteve o Todor.
Seus dois maridos cuidaram de sua carreira, Luiz Iglesias e Paulo Nolding meio que se anularam por ela. Iglesias, inclusive, produziu e até escrevia algumas de suas peças. Deixou uma bela carta na véspera de sua morte, reproduzida no livro.
Paulo queria ser ator, e era empresário. Deixou de lado esses dois trabalhos para ajudá-la. Com a morte do segundo marido, Eva deixou o teatro, onde atuou em dezenas de peças de sucesso no Brasil e em turnês por países como Portugal e África, onde também lotava teatros. Chegou a fazer um filme em Portugal.
Deixou as peças porque não daria conta de produzir e atuar ao mesmo tempo. Tinha um grupo, Eva e Seus Artistas, e se apresentavam especialmente no Teatro Serrador.
Na Bahia, em uma apresentação, ainda era menor de idade e a delegacia queria que ela assinasse um livro para obter liberação, e ali dizia “atrizes e meretrizes”. Iglesias não permitiu, fez manifestações e conseguiu a liberação.
De início Eva só fazia as mocinhas, com o tempo, depois dos quarenta, seu marido lhe disse que ela deveria fazer as mulheres maduras, pois era melhor aparentar ser mais nova que sua personagem que continuar com mocinhas, já que não tinha mais idade para tal.
Após a morte de Paulo, quando se dedicou a TV, seguiu interpretando mulheres mais velhas.
Aliás, quando ele faleceu, disse em entrevista que estava sozinha, e a Globo, que ainda não tinha lhe dado um contrato fixo, disse que a partir daquele momento seria sua família.
E assim foi, até hoje, mesmo após os 90 anos, segue na emissora, atuando. E se aposentou na casa, um carinho que lhe fizeram: aposentada e ainda com contrato.
Eva tem poucas experiências no cinema, dentre elas com Xuxa e em filme de Selton Mello.
Um dos trabalhos que adoraria ter visto, que o livro relata, é uma peça em que Oscarito fazia seu “espelho”, imitava tudo o que sua personagem fazia. Deve ter sido sensacional!
“O teatro da minha vida” tem ainda uma carta de Bibi Ferreira, ela diz que nutria uma invejinha da amiga, que sempre fazia as peças que queria fazer e ocupava o Serrador, teatro que também desejava.
Eva, no livro, dá umas alfinetadinhas e também se mostra ressentida, porque, apesar de todo o sucesso que fez no teatro, inclusive atraindo presidentes, quando se fala de peças, de sucessos dos palcos, não lhe citam. Também não tem um teatro com seu nome.
Assim como na TV. Apesar de adorável, de ser uma competente atriz, você não vê Eva Todor num Arquivo Confidencial, no Papo X da Xuxa, na Ana Maria Braga…
É o tipo de artista que, infelizmente, só terá o valor que merece quando partir.
Só quem lhe dá oportunidades e sempre lhe faz convites é Glória Perez. Não a toa Eva volta as telinhas em Salve, Jorge e eu, que não iria assistir, já mudei de ideia. Não posso perder Eva Todor, uma das mais adoráveis e competentes atrizes da TV brasileira!
Eu super recomendo seu livro, muito bonito e cheio de ilustrações. Tem fotos de Eva sensual, na juventude, que eu jamais imaginaria. Até na TV, quando fez Locomotivas.
“Hoje muitos artistas falam que representam, mas que não conhece~m a arte de dizer. Nada! Fazem drama gritando, falando alto”.